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17 setembro 2006

DOURO SÓ SERÁ VIAVEL SE IMPORTAR "CÉREBROS" E ENCONTRAR LÍDERES

Por br

Douro envelhecido e desertificado pode ser realizado
Este será o momento definitivo

"O que fixou a população no Douro foi uma capacidade de sofrimento que as novas gerações não aceitam."

São João da Pesqueira, um dos 15 concelhos da região Demarcada do Douro, perdeu, nos últimos dez anos, cerca de 1300 pessoas. Mais de metade das cerca de oito mil que ainda existem têm mais de 65 anos e debatem-se com a falta de qualidade de vida. A desertificação e o declínio demográfico são idênticos em toda a região. O que motiva o despovoamento na única zona do país com duas distinções mundiais e cuja paisagem será, como define José Rodrigues, escultor portuense, “uma catedral”?

“O que fixou, há uns anos, a população no Douro foi uma capacidade de sofrimento e resistência que as gerações mais novas não aceitam. Vão embora porque não têm condições atractivas nem perspectivas de futuro. As potencialidades da região não se traduzem na qualidade de vida das pessoas”, diagnostica Bianchi de Aguiar, ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Rural do XV Governo e actual presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV).

Falta massa crítica

O diagnóstico é consensual. As soluções são divergentes: “Há falta de massa crítica ao nível do empreendedorismo interno – não há sequer souvenirs à venda –, e falta de massa crítica a nível associativo”, continua Bianchi de Aguiar. E explica: “ O modelo de gestão da Casa do Douro foi corrigido para favorecer a dinâmica associativa através da criação de líderes regionais, porque estamos numa crise de liderança. Os líderes são indispensáveis para fomentar a mudança”.

Para Francisco José Viegas, escritor duriense, a solução não será interna. “As regiões não sobrevivem se não importarem pessoas, massa crítica, inovação. Não podemos pedir ao Estado que se ocupe do Douro; devemos esperar que os privados sejam inteligentes e descubram a região, investindo, por exemplo, no turismo do rio e no turismo rural sério e de qualidade”. Com uma ressalva: “Desta vez, é necessário empenhamento social. Em vez de gastar-se dinheiro mal gasto com as gravuras de Foz Côa é preciso redistribuir a incomensurável riqueza que a região produziu pelas pessoas para quem o Douro continua a ser, apenas, miséria e sofrimento”.

Amanhã já é tarde

Sendo vasta a lista de problemas de que padece a região, as soluções não podem ser encontradas sectorialmente, defende Ricardo Magalhães, ex-secretário de Estado do Ambiente e actual vice-presidente da Comissão Coordenadora de Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN). “É preciso importar cérebros que definam um sentido estratégico de articulação nas diferentes áreas de intervenção – arquitectura, ambiente, engenharia florestal –, e capacidade de tornar a estratégia operacional unindo esforços do sector público e privado. Não pode haver dispersão de investimento nem prioridades que não sejam conjugadas. Começar amanhã já é tarde, avisa.

É tarde porque, torna Bianchi de Aguiar, “daqui a meia dúzia de anos poderá já não haver população em algumas aldeias”. Aliás, considera, “é uma perversão que os proprietários que, tendo casas, se recusam a alugá-las, não sejam drasticamente punidos com o Imposto Municipal sobre Imóveis”.

O momento actual será definitivo para a revitalização do Douro, insiste Ricardo Magalhães. “Desde o primeiro Quadro Comunitário de Apoio (QCA), em 1989, houve um conjunto de projectos para a região, cujo resultado do investimento ficou muito aquém das expectativas. Neste arranque do último QCA, há duas apostas – o vinho e o turismo –, obrigadas a assegurar a eficácia social e económica”.

José Rodrigues é optimista: “O Douro é telúrico. Não se encontra aquele silêncio em nenhum lugar do mundo. É urgente dar-lhe o sentido que já teve no século XIX e acredito que vamos conseguir, porque estamos ligados a ele de alma e coração”. O presidente da CCDRN também. “Na última década houve uma impressionante qualificação dos vinhos de mesa do Douro. Hoje, a sua marca cobre o globo todo. Por que não havemos, nos próximos dez anos, dar igual salto qualitativo a outro nível?”

Artigo de Helena Teixeira da Silva / Fotos de Leonel de Castro
JN - Domingo,17 de Setembro de 2006
Edição n.º 108 / Ano 119
Página 34

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